quinta-feira, 7 de junho de 2007

CRÔNICA



INOCÊNCIA

“-Mãe, me compra maconha?!”
Num sábado desses fui à casa da minha avó, visitá-la. Entrei no ônibus Vitória-
Caruaru, sentei-me como qualquer pessoa normal... Se bem que... O que é ser normal? Será agir como todos esperam que você aja? Desculpem-me os leitores NORMAIS, mas isso é pura BURRICE.
Observei por um tempo um garoto de aparentemente seis anos. Ele era majestoso e intocável, na sua inocência. Imaginei-me criança. Como é bobo ser criança! Brincar de esconde-esconde, pula-carniça, passa-anel, mata-morreu... Apesar de que os mais crescidinhos brincam disso também. Duvida amigo leitor? Irei provar-lhe.
Esconde-esconde é quando um pai de família é obrigado a se esconder, a blindar o carro, a colocar vidros esfumaçados, e se o mesmo for podre, diga que piorou: Voltar pra casa cedo, pegar a primeira lotação, esconder a carteira... O pão... A vida.
Pula-carniça é quando temos que passar por cima dos cadáveres abandonados em cada esquina, sem nome, sem rosto, sem direitos...
Passa-anel é quando somos assaltados. Os bandidos, em maior número, costumam passar os objetos roubados de mão em mão, despistando assim a polícia. Então no caso é passa-anel, passa - celular, passa - bolsa...
Mata morreu é a dura realidade da saúde pública. Nos hospitais não se salvam mais vidas... Salvam-se premiados! Ser atendido a tempo é uma questão de sorte! Além disso, os funcionários acham que ganham pouco (Verdade) por isso não se sentem obrigados a nada (Egoísmo). Há profissionais sem ética, sem caráter, mal qualificados, formados em qualquer esquina acadêmica, as condições são precárias... E o povo é passivo.
Por tanto se um mata, não tem jeito, com certeza o outro morreu.
Mas voltemos...
O menino que eu observei carregava nos olhos a magia da inocência, a desvairada falta de maldade, suas mãozinhas, delicadas, apertavam contra o peito nu um ursinho de pelúcia. Sua saliva escorria através do bico da chupeta, meu Deus! Esta foi à visão mais linda que já presenciei. De repente, como um cachorro foge da tosa e um gato foge do banho, meu encanto foi quebrado. Ele, o garoto inocente que me conquistou, que tanto prendeu minha atenção, olhou duramente para sua mãe, que sentava ao seu lado, e gritou:
-Mãe, me compra maconha?!
-Que é isso menino?! Quem te ensinou esta palavra feia?
-Hein... A senhora sabe muito bem que papai vende isso todo dia!


LUA JENIFFER, 2003